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Por Vilma Gryzinski

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Mundo

A democracia não acabou, mas o governador da Califórnia surfou na onda 8s32

Gavin Newsom fez prognósticos exagerados sobre envio de tropas para conter protestos, usados para se projetar como potencial candidato à Presidência k6n2p

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 12 jun 2025, 07h12 - Publicado em 12 jun 2025, 07h07

Governador da Califórnia Gavin Newsom — Pensando naquilo: Newsom quer ser presidente e protestos deram oportunidade para ter projeção nacional (Mario Tama/Getty Images)

Se fosse um país independente, a Califórnia seria a quarta maior economia do mundo – com PIB de 4,1 trilhões de dólares, ou à frente do Japão em 2024. E se elegesse um presidente, provavelmente ele seria o atual governador, Gavin Newsom. Do ponto de vista dele, o problema é convencer o resto dos Estados Unidos de que o sistema altamente liberal do estado, a ponto de ser chamado pelos conservadores de República Socialista da Califórnia, merece ser imitado por todo o país.

Com altura, cara e cabelo de presidente de cinema, Newsom apostou na crise desencadeada quando eclodiram protestos contra ações da polícia migratória e Donald Trump mandou a Guarda Nacional reforçar a segurança, sem se dar ao trabalho de consultar o governador.

“O momento que temíamos aconteceu”, disse Newsom, num tom catastrofista imitado pela imprensa antitrumpista. “A democracia está sob ataque diante de nossos olhos”.

A democracia não sofreu abalos, o mundo não acabou e a situação se acalmou – inclusive por ação da polícia, não da Guarda Nacional. As duas personalidades políticas envolvidas saíram ganhando. Trump pode dizer que seu método deu certo – “Se não tivesse agido logo, Los Angeles estaria queimando até o chão”, exagerou, Newsom incorporou o figurino de líder da oposição, na definição do New York Times.

“ENORMEMENTE INCOMPETENTE” 3t5e4l

Enfraquecido depois de ficar firme no apoio a Joe Biden, enquanto o ex-presidente desmoronava em público no ano ado, Newsom ganhou vida nova. O Partido Democrata ainda está absorvendo a tríplice perda – Casa Branca, Câmara e Senado -, Kamala Harris sumiu de cena, não há nenhuma figura que se projete como candidato presidencial e o político californiano aproveitou a oportunidade.

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Nada mau para quem sofreu com extrema dislexia na infância, com dificuldades para ler, escrever e fazer contas. Mas calculou bem alguns gestos em direção dos conservadores, como ao falar na “extrema injustiça” da participação de mulheres trans, com as vantagens da biologia masculina, em competições esportivas femininas. Para os padrões californianos, onde o eleitorado aprovou a lei que isenta de processo os furtos até 900 dólares, foi como se descumprisse os dez mandamentos da turma woke ao mesmo tempo.

Agora, está surfando na onda de ser o político que peita Trump e com certeza haverá novos embates. Newsom e Trump se conhecem de outros tempos – e, segundo o presidente, ele “é um bom sujeito, mas enormemente incompetente”. Já tiveram até laços familiares indiretos: a primeira mulher do governador é Kimberly Guilfoyle, companheira durante quase dez anos de Donald Trump Jr – e recompensada com a embaixada na Grécia depois da ruptura.

CABELEIRA PERFEITA 1i2h1g

Newsom foi prefeito de São Francisco e tem uma rede de casas de vinho e diz entender o drama de comerciantes acossados por sem-teto, um fenômeno especialmente forte na Califórnia, obrigados a fechar seus negócios quando a degradação urbana se instala.

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É casado com a atriz e documentarista Jennifer Siebel. Em 2022, ela deu um testemunho dramático de como foi estuprada por Harvey Weinstein quando estava em seu quarto de hotel, achando que “íamos discutir os meus projetos”.

Muito do futuro de Newsom, que não pode concorrer a um terceiro mandato como governador, depende de como se sairá Trump. Um governo muito ruim abriria caminho para candidatos mais à esquerda, como a deputada Alexandria Ocasio-Cortez. Newsom poderia se colocar como uma opção liberal, mas menos extrema.

A concorrência por enquanto é fraca, mas outros nomes podem surgir, principalmente se os democratas recuperarem a Câmara e o Senado nas eleições legislativas do ano que vem.

Está todo mundo fazendo seus cálculos, Incluindo, claro, o governador que adversários republicanos chamam de “Hairdo”. Um equivalente aproximado em português seria “Cabelão”. Se Donald Trump, com seu penteado exótico, já foi eleito duas vezes, por que não Gavin Newsom e sua cabeleira perfeita?