Há 35 mil anos, humanos já cruzavam o mar no Sudeste Asiático o623t
Achados arqueológicos revelam uma sociedade adaptada ao ambiente costeiro e desafiam a ideia de que os primeiros povos da região viviam isolados em ilhas 58d5k

Pescando tubarões em mar aberto, cruzando ilhas por rotas marítimas e enterrando seus mortos com rituais elaborados: essa era a realidade dos primeiros habitantes da ilha de Mindoro, nas Filipinas, há pelo menos 35 mil anos. É o que mostra uma nova publicação do periódico Archaeological Research in Asia liderado por pesquisadores da Ateneo de Manila University, nas Filipinas, em colaboração com instituições internacionais.
A partir de escavações realizadas desde 2010 em mais de 40 cavernas e abrigos rochosos no sul da ilha, os arqueólogos encontraram ferramentas feitas de osso, pedra e conchas, restos de peixes oceânicos e vestígios humanos que comprovam uma intensa adaptação ao ambiente marinho. As evidências indicam que os grupos que viveram ali já eram navegadores habilidosos, capazes de manter redes de contato entre ilhas, desenvolver tecnologias locais e migrar por longas distâncias, mesmo sem qualquer conexão terrestre com o continente asiático.
Ao contrário de ilhas como Palawan, que já estiveram ligadas ao continente por pontes de terra, Mindoro sempre exigiu travessias por mar aberto — o que torna os achados ainda mais surpreendentes.
Que tecnologias esses grupos dominavam? 6g4s32
Entre os destaques do projeto estão os machados feitos com conchas de moluscos gigantes, datados de 7 mil a 9 mil anos atrás, que se assemelham a ferramentas encontradas a mais de 3 mil quilômetros dali, em Manus, na Papua-Nova Guiné. Esse tipo de semelhança reforça a hipótese de uma rede de trocas culturais e tecnológicas que abrangia toda a região da Sudeste Asiático, conhecido por seu complexo mosaico de ilhas.
Foram identificadas também ferramentas de corte em obsidiana — com composições químicas similares às de outras ilhas, o que indica circulação de materiais e técnicas entre populações distantes — além de anzóis e redes para pesca de espécies como bonito e tubarão, o que exige habilidade em mares profundos e não apenas em áreas costeiras rasas.
Outro achado de destaque é uma sepultura datada de 5 mil anos atrás, em que o corpo foi colocado em posição fetal e coberto por lajes de calcário — um ritual semelhante ao de outros enterramentos encontrados em diferentes pontos do Sudeste Asiático, sugerindo influências ideológicas compartilhadas e complexidade social emergente na região.
As evidências reunidas desafiam a ideia de que os primeiros povos da região viviam isolados em ilhas tropicais, com recursos limitados e mobilidade restrita. Ao contrário, os dados mostram que os primeiros filipinos eram altamente adaptados ao ambiente marítimo e integrados em uma rede ampla de circulação de pessoas, ideias e tecnologias.